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quinta-feira, 18 de junho de 2015

PCC encomenda música e manda “salve geral”.

O objetivo dos caras [PCC] é denunciar as mazelas lá de dentro, que é o que está na música”, afirma o rapper Cascão, autor da canção, que confirma ter recebido a ordem de dentro dos presídios.
Luiz Silveira / Agência CNJ
Pernambuco
Imagem da casa de detenção Aníbal Bruno, em Pernambuco, em 2011: em todo o País, a situação do sistema carcerário é precária
O Primeiro Comando da Capital (PCC), de dentro dos presídios, encomendou uma música ao rapper Cascão, integrante do grupo Trilha Sonora do Gueto, segundo o músico. A canção é um “salve geral” da facção criminosa, denunciando o Estado por descumprir a “Lei de execuções penais”, e alerta: “Não adianta ocultar, nem tentar oprimir. Nóis tem gente espalhada em todo canto por aí.” 
A iniciativa de “dar um salve” através de uma música lançada diretamente no Youtube [que até o fechamento desta matéria tinha ultrapassado, em 20 dias, mais de 150 mil visualizações] é inédita.  O novo formato contrasta com o anterior, mais analógico, de distribuição de panfletos e cartas, explica Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e autora do livro PCC – A hegemonia nas prisões e o monopólio da violência, uma das maiores especialistas no assunto. 
“Essa música é uma mensagem para o Estado, uma espécie de alerta ao fato de que, apesar de estar tudo aparentemente ‘tranquilo’ nosistema prisional em São Paulo, eles estão lá", diz. "Uma espécie de lembrete das condições precárias em que essa ‘paz’ tem sido mantida nas prisões de São Paulo nos últimos anos e dos ‘fiadores’ dessa tranquilidade nas prisões do Estado”, explica Camila.
Cascão afirma que o pedido da música veio após o rapper ter recebido um dossiê com diversas reclamações de violação de direitos humanos dentro dos presídios. “O objetivo dos caras [PCC] é denunciar as mazelas lá de dentro, que é o que está na música. Todo mundo está me chamando de louco por ter feito essa música, mas eu não devo nada, cumpri minha parte, mas sei o que acontece lá dentro e conheço os caras, não posso negar isso”, afirma o rapper, que passou oito anos preso, entre os de 1991 e 1999, e viu a facção nascer e crescer dentro dos presídios. 
No vídeo clipe produzido para divulgar a música, um homem encapuzado lê as reivindicações do PCC. “Queremos um sistema carcerário com condições humanas, não um sistema falido e desumano, no qual sofremos inúmeras humilhações e espancamento. Não estamos pedindo nada mais do que está na lei”, afirma o ator. 
Na “W2 Proibida” (abaixo), Cascão lembra das imagens vazadas pelo SBT em outubro de 2014, que mostram o Grupo de Intervenção Rápida, atuante nos presídios paulistas, intervindo dentro da penitenciária de Presidente Venceslau II. No vídeo, a ação dos agentes do Estado provoca um incêndio em uma cela com presos dentro. Em seguida, todos são retirados do espaço e espancados. 

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